Especialistas alertam que toda dieta deve ser feita com acompanhamento profissional e o segredo está em considerar no cardápio as individualidades de cada um.
Desde que descobriram ser portadoras de uma mesma doença crônica autoimune, Vera Folli e Laura Pires mudaram radicalmente seus hábitos alimentares. Ambas encontraram na comida uma das maiores aliadas para a recuperação da saúde, mas cada uma à sua maneira. Vera recebeu orientação médica para deixar de consumir carnes e derivados de leite e precisou se reinventar na cozinha. As mudanças e seus resultados foram tão positivos que ela foi além do vegetarianismo e adotou a alimentação crudivorista, também conhecida como crua ou viva. “Comecei aumentando as verduras e legumes. Depois consumia só orgânicos. Até chegar à cozinha crua. E fui sentindo os diferentes benefícios a cada escolha que fazia”, lembra Vera.
O vegetarianismo é uma das bases da alimentação crudivorista, assim como da Ayurvédica (originária da medicina tradicional indiana), entre outras. A nutricionista funcional Dra. Carla Cotta afirma que os cardápios desses tipos não se resumem à restrição de ingredientes, mas apresentam uma variedade de novos alimentos. “A simples supressão de ingredientes não garante uma boa saúde. Mas esses cardápios são, muitas vezes, mais ricos em verduras, legumes e frutas do que uma dieta convencional”, observa. Laura, que começou a tratar a doença pela medicina indiana Ayurveda, como conta no livro O Sabor da Harmonia, descobriu que ter uma alimentação Ayurvédica não é fazer pratos indianos, mas, sim, “entender os princípios e adaptá-los às possibilidades do cotidiano, criando novas receitas baseadas na culinária brasileira”. O cuidado com o ambiente onde os alimentos são obtidos é uma das orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira, lançado para consulta pública pelo Ministério da Saúde no início de 2014. Os alimentos de época e da região são os mais saudáveis, pois ficam por menos tempo em transportadoras e recebem menos produtos químicos para conservação. “Descobri que nem mesmo o chuchu dá o ano todo, como diz o ditado”, brinca Vera.
O CARDÁPIO VEGETARIANO E SUAS VARIAÇÕES
O vegetarianismo é uma das dietas mais difundidas atualmente. Segundo pesquisa do Ibope de 2012, 8% dos brasileiros, ou seja, mais de 15 milhões de pessoas, declaram-se vegetarianos. Originado na sua forma mais restritiva, que hoje recebe a denominação vegana, ele consiste no não consumo de alimentos de origem animal, entre eles carne vermelha, de aves e peixes, frutos do mar, leite, derivados e ovos. Os veganos não consomem nem mesmo mel, produzido pelas abelhas, que substituem por melado ou açúcar de rapadura.
A dieta não foi criada por profissionais da área da saúde, tendo nascido de uma preocupação ética sobre a relação com os animais e o meio ambiente. No entanto, parte do meio científico já relaciona a dieta vegetariana e suas variações com a redução de incidência de doenças crônicas, como a obesidade e a diminuição de cardiopatias, do colesterol, de constipação, transtornos digestivos e pressão alta, entre outros, segundo atesta o Conselho Regional de Nutricionistas de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Segundo nossa endocrinologista, Dra. Suemi Marui, também não há relações de alteração hormonal causada por essa dieta.
O segredo de um bom cardápio vegetariano está em contemplar todas as demandas nutricionais. Os vegetarianos consomem mais leguminosas, oleaginosas e frutas, fazendo com que dificilmente tenham falta de vitamina C ou ácido fólico, este último fundamental para a formação do DNA e controle da divisão celular, encontrado em folhas verde-escuras, soja, feijões, lentilhas, grão-de-bico, trigo sarraceno, castanhas, amêndoas, gérmen de trigo e brotos.
“O ferro e a proteína também estão presentes em uma dieta com origem vegetal, que pode prezar mais pelas sementes, brotos e oleaginosas. O feijão, os ovos e as algas marinhas são ricas fontes de ferro”, diz a Dra. Carla. Já as proteínas podem ser obtidas do tofu, quinoa, amaranto, feijões, lentilhas e outras leguminosas reunidos com cereais e alguns vegetais. “A mais básica combinação de feijão com arroz também é infalível”, afirma a nutricionista. Uma segunda variação é chamada de ovolactovegetarianismo, que permite o consumo de ovo, leite e derivados. Nesta, a proteína vem do leite e dos queijos.